Adolfo Bezerra de Menezes foi conhecido em seu tempo como o Médico dos Pobres.
Nascera em família afortunada e católica, a 29 de agosto de 1831, em Riacho do Sangue, na Província do Ceará. Cresceu em clima de severa dignidade, respeito e religiosidade. Devido à sua prestimosa inteligência, inerente a todos os espíritos superiores, distinguiu-se nos estudos desde cedo, sendo sempre o 1º aluno de sua classe. Em cinco de fevereiro de 1851, quando contava com 19 anos de idade, transferiu-se para a Corte (atual Rio de Janeiro) para fazer seu curso médico. Nesta época seu pai, homem de bom coração havia perdido a sua fortuna e não pode ajudar seu filho financeiramente em seus estudos. Foi através de lutas, privações e renúncias aos prazeres ilusórios do mundo, que Bezerra conseguiu, em 1856, doutorar-se em Medicina.
Casou-se em seis de novembro de 1858, aos 27 anos, com D. Maria Cândida de Lacerda, pertencente a ilustre família. No fim de quatro anos, sua mulher desencarna, deixando-lhe dois filhos, um de três anos e outro de um ano. Este fato produziu em Bezerra um abalo físico e moral. Todas as glórias mundanas que havia conquistado tornaram-se aborrecidas. Não tinha mais prazer de ler e escrever, suas duas maiores distrações, e nada encontrava que lhe fosse lenitivo à tamanha dor. É porque Bezerra, quando na Faculdade, na convivência de seus colegas, na maioria ateus, esquecera-se da sua crença católica que não fora firmada em uma fé raciocinada. Apesar disso, continuava a crer em dois pontos da religião católica: a crença em Deus e a existência da alma.
Um dia, um amigo seu lhe trouxe um exemplar da Bíblia, traduzido pelo padre Pereira de Figueiredo. Bezerra tomou o livro sem o intuito de lê-lo, mas folheando-o começou a ler e esqueceu-se nesta tarefa. Leu toda a Bíblia e percebeu que algo de estranho se passava em seu interior. Quando acabou, tinha a necessidade de crer novamente, mas não nesta crença imposta à fé, mas numa outra firmada na razão e na consciência. Atirou-se então à leitura dos livros sagrados, com ardor e sede. Mas havia sempre uma falha a que seu espírito reclamava.
Começaram a aparecer as primeiras notas espíritas no Rio de Janeiro. E, apesar de ouvir sobre esta nova Doutrina, Bezerra repelia-a sem conhecê-la, pois temia que ela perturbasse a paz que lhe trouxera ao espírito a sua volta à religião.
Um dia, porém, seu colega Dr. Joaquim Carlos Travassos, tendo traduzido o Livro dos Espíritos de Allan Kardec, presenteou-o com este livro. E tal como acontecera com a Bíblia, prendeu-se neste livro, lendo-o todo. Operou-se nele um fenômeno estranho. Ele sabia que nunca havia lido qualquer obra espírita, no entanto, tudo o que lia não era novo para seu espírito. Ele sentia como se já tivesse lido e ouvido tudo aquilo. São as lembranças da alma.
Foi assim que Bezerra de Menezes tornou-se espírita.
No entanto, assim com Allan Kardec com seu espírito crítico e observador não se deu logo a acreditar em todos os fenômenos ditos espíritas e iniciou, intimamente, uma pesquisa experimental para comprovar os preceitos desta nova doutrina.
A data de 16 de agosto de 1866 tornou-se memorável na História do Espiritismo no Brasil, por um acontecimento que, nos meios políticos, religiosos e médicos, ecoou de maneira estrondosa, causando mesmo surpresa e desapontamento para muitos, principalmente para os da classe médica. É que, numa das costumeiras tertúlias que então se realizavam no grande salão da Guarda Velha, em que compareceram cerca de duas mil pessoas da melhor sociedade, Bezerra de Menezes, então presente, pedindo a palavra, proclamou solenemente a sua adesão ao Espiritismo. Essa sua filiação à nova corrente religiosa foi como uma transfusão de sangue novo para a Doutrina no Brasil, a qual daí por diante entrou em ritmo mais acelerado.
Em 1895, em meio a divergências havidas na FEB, e como obteve a maioria absoluta dos votos, Bezerra de Menezes tornou posse da presidência da FEB. Durante toda a sua presidência (1895-1900) trabalhou ativamente e com muito ardor no propósito de congraçar os espiritistas, e jamais esmoreceu na luta a bem da unificação geral, mantendo campanha sistemática em favor do estudo da nossa Doutrina e, sobretudo, seja pela palavra falada, seja pela palavra escrita, mostrava a completa, integral interdependência do Espiritismo e do Evangelho. Dizia mesmo que a pedra fundamental do Espiritismo, em sua pura concepção, era o Evangelho. Sem ele a Terceira Revelação não subsistiria e jamais se agigantaria nas consciências humanas.
Não obstante sua mansuetude, seu espírito fraternista, por excelência, pronta e decididamente saía à liça, como um leão, quando o Espiritismo era atacado, disposto a derrubar o inimigo, com as armas de sua inteligência, de sua dialética, de seus conhecimentos e de sua indômita coragem. Bezerra era um profundo conhecedor das ciências da vida e um filósofo por excelência. Nessas lutas, pouco se lhe dava que seus contendores ocupassem altos postos na política ou na administração pública, que gozassem do maior prestígio dos poderosos. Colocava, acima de seus interesses pessoais, a defesa do Espiritismo, desde que ela se fizesse necessária.
Foi por este motivo que Bezerra de Menezes foi também intitulado de Kardec Brasileiro, porque foi ele, quem realmente no Brasil, estava preparado para difundir o Espiritismo pela inteligência, pela persuasão, pelos atos e, sobretudo, pelos exemplos edificantes.
Bezerra de Menezes também teve vida política. Foi vereador, deputado geral e até Presidente da Câmara Municipal. Durante 20 anos que esteve envolvido com a política, Bezerra foi muito querido e odiado. Prestou relevantes serviços ao município que o elegera e conquistou os foros de inteligente, ilustrado, ativo e honesto.
Em 21 de janeiro de 1865 casa-se novamente, com a Sra. D. Cândida Augusta de Lacerda Machado, irmã materna de sua primeira mulher, e com quem teve sete filhos.
Bezerra de Menezes não fora, como alguns de seus admiradores supõem, um despreocupado com o dia de amanhã, com a assistência à família, com o futuro dos seus queridos entes familiares. Sabia, como poucos, ater-se à disciplina do necessário, a desprezar o supérfluo, a não se apegar às coisas materiais. Aceitava o pagamento dos clientes que lhe podiam pagar e dava aos pobres e estropiados o que podia dar, inclusive algo de si mesmo. Sua família jamais passou necessidade. Todos seus familiares lhe tiveram a assistência permanente e o alimento espiritual de seus bons exemplos. Preocupava-se com o futuro de seu Espírito e dos Espíritos daqueles que o Pai lhe confiou.
Em plena doença, com o corpo inchado, vítima de anasarca, ainda hemiplégico, atendia aos seus inúmeros doentes que o visitavam, enviando-lhe no aceno das mãos, no sorriso dos lábios ou pelo olhar manso e bom, consolações e testemunhos de confiança na Virgem Santíssima! Foram cerca de quatro longos meses de sofrimentos atrozes, de sublimes testemunhos, em modestíssimo e desguarnecido quarto de sua residência humilde, pois o impacto produzido por esse mal violentíssimo o privara de qualquer movimento e da própria fala. Apenas seus lindos olhos verdes se moviam e falavam naquela linguagem misteriosa da expressão nascida da pureza de seu coração e da grandeza extraordinária de sua fé de apóstolo. Bezerra fez questão de que os remédios fossem prescritos pelas entidades espirituais, e de receber passes mediúnicos, indo os médiuns à sua residência, para esse fim caridoso.
No dia 11 de abril de 1900, sentindo que se aproximava a hora de seu decesso, pediu que o ajudassem a levantar-se um pouco e, com a cabeça erguida, olhos voltados para o Alto, assim orou, baixinho e entre lágrimas, deixando-as suas últimas palavras como a Lição permanente da sua grandeza Espiritual, de seu Espírito totalmente libertado dos vícios e ligado à causa cristã:
– Virgem Santíssima, Rainha do Céu, Advogada de nossas súplicas junto ao Divino Mestre e a Deus todo poderoso, eu te peço não que deixe de sofrer, mas que meu pobre espírito aproveite bem todo o sofrimento e te peço pelos meus irmãos que ficam, por esses pobres amigos, doentes do corpo e da alma, que aqui vieram buscar no teu humilde servo uma migalha de conforto e de amor. Assiste-os, por caridade, dá-lhes, Senhora, a tua Paz, a Paz do Cordeiro de Deus que tira os pecados do Mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo! Louvado seja Teu nome! Louvado seja o Nome de Jesus! Louvado seja Deus!
E desencarnou.
Gente de toda a cidade do Rio, especialmente dos morros, das favelas, gente humilde, descalça, maltrapilha, os pobres de espírito, os humildes de coração, beneficiados pela Medicina do seu amor, ali se achavam em mistura com outra gente rica e poderosa, pertencente ao mundo oficial do Governo.
Na noite de 12 de abril de 1900, às sete horas, houve a habitual sessão comemorativa da Ceia do Senhor, na FEB. Todos que ali estavam ouviram, pela maravilhosa mediunidade de Frederico Pereira da Silva Júnior, a palavra querida do Espírito do nosso Bezerra de Menezes.
Sua mensagem foi longa, e nela mais de uma vez, humildemente, agradeceu a Deus, a Jesus e a Virgem Santíssima as bênçãos divinas que misericordiosamente recebia na pátria espiritual, dizendo:
– Baixai vossos olhos sobre os meus amigos! São também vossos filhinhos, como eu, que aflito gemi e padeci na Terra, sempre com os olhos cravados em vós. Dai que eles possam compreender, ó Virgem Imaculada (…), esse amai-vos uns aos outros, certos, convencidos de que o amor que desdobrarem das suas almas, para os seus irmãos, evola-se, libera-se aos páramos onde está o vosso amado Filho, é o amor elevadíssimo que nos vem com Jesus.(…) Obrigado a todos vocês. Bezerra estará sempre unido aos vossos corações. O Bezerra pede a Deus, e Deus há de permitir que ele continue a trabalhar, a produzir a seara bendita.
No dia 11 de abril de 1950, ocorreu no plano espiritual uma reunião para homenagear os 50 anos de desenlace do Doutor Bezerra de Menezes. Chico Xavier foi um dos convidados. Bezerra achava-se naquele ambiente de luz e emoção, sinceridade e gratidão e vivendo com grande emoção aqueles momentos em que recordava dos 69 anos vividos na Terra como o Médico dos Pobres, o Irmão dos sofredores, o Discípulo humilde e sincero de Jesus e o Kardec Brasileiro. De repente, sob a surpresa dos que compunham a grande assembleia, de mais Alto, uma Estrela luminescente dá presença. Era Celina, a enviada da Virgem Santíssima, que chega e lê a sua mensagem, promovendo Bezerra a uma Tarefa Maior e numa Esfera mais Alta. O Evangelizador Espírita chora emocionadíssimo e ajoelha-se agradecendo entre lágrimas, à Mãe das Mães a graça recebida, suplicando-lhe, por intermédio de sua enviada sublime, para ficar no seu humilde Posto, junto à Terra, a fim de continuar atendendo aos pedidos de seus irmãos terrestres que tantas provas lhe dão de estima e gratidão.
O espírito luminoso de Celina sobe às esferas elevadas de onde veio e se dirige aos pés da Mãe Celestial, submetendo à sua apreciação o pedido de seu servo agradecido.
Daí a instantes, volta e traz a resposta de Nossa Senhora:
– Que sim, que Bezerra ficasse no seu Posto o tempo que quisesse e sempre sob suas bênçãos!
E da Terra e do Além partem vozes em Prece!
Bezerra de Menezes que, na Terra, foi o extraordinário arauto do Evangelho, simbolizado na sua fé, na sua ação, no seu trabalho, no seu amor, nos seus pensamentos e na sublime caridade que praticava sempre em todas as horas de seu viver, continua ainda nas etéreas regiões, por intermédio dos mais diversos médiuns existentes em todo o Brasil, distribuindo as flores mais belas e mais viçosas, nascidas de seu coração aos que sofrem, gemem, choram e desesperam, em virtude de seus padecimentos físicos e morais.
Bezerra de Menezes é para todos os que mourejam em terra do Coração do Mundo, a âncora de salvação, quando o infortúnio os atinge. Milhões de vozes pedem diariamente o seu socorro… Milhões de corações agradecem a esse grande benfeitor as dádivas do seu amor!